Pesquisas e experimentos sociais sobre nossa vivência no ambiente digital comprovaram que, o maior medo das mulheres, de conhecer alguém pela internet, é que o outro seja um serial killer, já falando sobre os homens, o maior medo deles em encontros proveniente do virtual, é que ela seja gorda; não é extremamente bizarro esta discrepância entre nós?
Pois bem, pensando neste sério resultado, um grupo responsável pelo canal Simple Pickup – do YouTube – resolveu praticar a ideia numa espécie de experimento social; muitos vão achar graça, porque o ar é de pegadinha, afinal, tem câmera escondida e a gente já se acostumou a dar risada deste tipo de coisa, mas chega a ser assustadora a forma meteórica como o estético interfere neste cruzamento entre ambientes, entre o online e o offline; não que antes, há anos atrás, fosse algo diferente, mas hoje em dia, cada vez mais, a ideia tem sido mais forte, afinal, você está lendo isto com os olhos, o estímulo visual é algo que irá cada vez mais ser frequente em nossas tecnológicas vida, principalmente por vídeo.
Caminhamos rumo a uma sociedade cujo relações não serão mais faladas e nem tecladas, serão troca de favores, fotos, vídeos e toque por objetivos voltados a todo o lado estético da coisa.
O experimento foi feito com um ator e uma atriz, tinham fotos lindas no profile do Tinder (um aplicativo que facilita encontros de todos os tipos, para conversar, para sexo casual ou qualquer coisa do tipo), porém, no momento do encontro, estavam maquiados de gordos, e bem diferentes do que pareciam ser – apenas fisicamente, no aplicativo; ambos tiveram seus corpos moldados fora do padrão que a sociedade impõe e do que as fotos anteriores mostravam; dê o play:
O experimento com o homem/ator que também colocou fotos de um recente passado magro e esteticamente interessante teve resultados totalmente diferentes e, apesar das reações, fica nítido o quão diferente, nós (homens e mulheres) agimos e somos em determinadas situações; dê o play e comprove:
https://www.youtube.com/watch?v=iUy3_kBme4M
Erro do usuário e da usuária ou nosso como sociedade?
É nítido o quão machista a nossa sociedade ainda é, e não precisava de um experimento social como o acima para comprovarmos isto, não é só sobre a cultura da magreza que nos afeta, mas, principalmente, como reagimos; as mulheres, em primeiro plano, encontram-se muito mais abertas a estes pseudodefeitos que a sociedade impõe pelo simples fato de já sofrerem milhares de diferentes pressões e esteriótipos, os homens, por outro lado, seguros numa sociedade conservadora e que massacra as minorias – como as do sexo feminino, sem nenhum tipo de piedade, questionam, em vídeo, “de quando eram as fotos?” e até chegam a largar a mulher ali, sozinha, sem nenhum tipo de compaixão ou atenção pelo próximo.
Escrevendo assim você deve estar pensando, ‘certamente este texto é de alguma blogueira feminista‘, e eu respondo: apesar da ideia não me ofender nem um pouco, sou homem, infelizmente, com alguns traços machistas, mas sou pró-feminismo sim, e experimentos assim deixam claro, na prática, o quão ‘não disfarçado‘ esse papo de “machismo é coisa do passado” e de que “não existe mais preconceito” é 100% furada.
Em um recente experimento feito pelos administradores do aplicativo OkCupid – que tem a mesma base do Tinder (geolocalização e objetivos), mas muito mais profundo e menos voltado para o sexo casual; os administradores fizeram um experimento social retirando todas as fotos de todos os profiles por 1 semana, criando assim, um envelope conceitual chamado “Blind Date” (em português: “Encontro as cegas”).
O nível de conversa entre os usuários subiu muito mais do que o normal e, no retorno das imagens, muitas daquelas conversas que, possivelmente, nunca se iniciariam, continuaram e se prolongaram.
Tá, mas peraí, por que retiraram as fotos?
Diferente do Tinder, o OkCupid é focado em descrições e testes de compatibilidade, os usuários podem responder até 300 perguntas de diversos temas e, quanto mais concordarem uns com os outros, maior a porcentagem daquilo – teoricamente – dar certo; existem campos para você complementar de forma dissertativa, sobre determinados assuntos e com suas ideias, logo, a dinâmica é quase que oposta ao do Tinder, saindo apenas do campo visual e indo além da seleção entre ‘esquerda‘ e ‘direita‘; PORÉM, geralmente, nós, o usuários de Internet, nos limitamos exatamente ao que a rede consegue nos propor, neste caso, a imagens na tela e, esta interdição/experimento social teve como raiz o fato de que, pessoas sem nenhum tipo de descrição, que nunca responderam nada e apenas colocaram fotos bonitas e pareciam ser sexy, tinham, em seus respectivos avatares do aplicativo, a personalidade avaliada como positiva pelos outros, enquanto pessoas que tinham tudo para serem ótimas, mas não eram tão fotogênicas, não – ou seja, a incoerência era tão enorme quanto a reação das pessoas em conhecer alguém que se interessou mas rejeitar por não atender a determinado esteriótipo que algum anúncio qualquer nos impôs, continua impondo e cultivando uma cultura que nos segrega cada vez mais a infelicidade de procurar pelo impossível!
No mundo digital, é válido sempre ressaltar que as pessoas nunca se interessam por você, na verdade, se interessam pela ideia que fazem sobre você; conhecer o outro de verdade demanda tempo, intimidade e intensidade, é extremamente trabalhoso, não podemos reduzir o universo de uma mente em qualquer algoritmo que pode ser popularmente traduzido como curtida, conexão, fotos ou um aplicativo de relacionamentos; conhecer o outro da trabalho e exige que a gente se reconheça nesse espelho chamado relação; aceitar como pedágio que a estética deve sempre atender aos estranhos parâmetros que temos, é como nos condicionarmos a uma camisa de força para o resto da vida, mesmo sabendo que ser feliz é conseguir abraçar o mundo.
Além do mais, um estudo apontou que felicidade e fotos postadas nas redes sociais chegam a ter uma margem de erro de 80% – é mentira, esta pesquisa não existe e eu falei isso sem base alguma, é só uma opinião minha mesmo.
Por um mundo que, mesmo condicionado à timelines que imponham imagens e categorias de beleza, que as pessoas não se rotulem e sejam mais livres, que antes de olharem os ângulos, filtros e likes das redes sociais, olhem o outro de verdade,, afinal, se a tecnologia serve para nos aproximar e nos unir cada vez mais, por que estamos no caminho oposto de tudo isso?
Acho que são pontos de vistas e assuntos realmente distintos:
1. O quão a sociedade rotula e avalia as pessoas.
2. O quão as pessoas se iludem e iludem as outras com personagens virtuais dos quais são desmascarados pessoalmente.
Realmente o objetivo do tinder é você ter uma noção estética da pessoa e aprovar ou não, para quem sabe rolar alguma coisa. É o que praticamente acontece em uma balada, você vai, olha aparente as pessoas que ali estão, pode ou não se agradar da aparência de alguma (s) e flertar.
Logo, você conhece a pessoa com a convivência.
O outro ponto é referente as pessoas estamparem nas redes sociais uma vida omitida de muitas verdades para não espantar bons candidatos a parceiros (as), daí ocorre a frustação das duas partes, pois a pessoa se ilude achando que é perfeita (a outra acha o mesmo), mas quando se conhecem, percebem que não passava de um personagem e aí as expectativas se acabam.
Numa sociedade que é tudo vivido tão intensamente, desde um sorvete no instagram amada por todos, até uma foto de uma selfie no velório (que fase) quando há uma quebra de valores e expectativas a frustração é proporcionalmente intensa.
Tem uma frase que eu curto: “O final de semana foi tão bom que eu não tirei/postei nenhuma foto.”
Adorei o texto, o teste… Alem de compartilhar, eu queria que fosse matéria essencial de colégio.