Fui assistir O Ano Mais Violento (A Most Violent Year) esperando algo bem diferente do que o diretor JC Chandor apresentou na telona. E fui surpreendido positivamente. Não por esperar algo ruim e ver algo bom, pois já esperava um filme que valesse a pena. A questão é que eu não gosto de filmes de Gangster, mas devido ao elenco, estava doido pra ver esse filme.
Pra começar, já peço pra que você tire da cabeça que esse é um filme tradicional sobre gangsters, apesar de ser um filme onde o herói faz de tudo pra parecer um. Abel Morales (Oscar Isaac) é um imigrante que está vivendo o “sonho americano”. Em 1981, ele é dono da empresa onde começou trabalhando como motorista, é casado com filha do seu antigo patrão – esse sim, um gangster – e serve de inspiração para funcionários como Julian, que tem a mesma origem de Abel e sonha em seguir os passos do seu chefe.
Quem viveu a década de 80, mesmo não tendo ido à NY, sabe o quão violenta era a cidade: o cinema retratava esse fato com muita ênfase. Os índices de roubos, estupros e assassinatos tiveram o seu pico e nada indicava que isso fosse mudar. Parecia que a cidade era comandada por bandidos… E na verdade era.
Mas o que aconteceria se um homem, que não quer ser um gangster, resolvesse tentar conquistar o seu espaço e ter poder, sem usar de violência ou trapaça?
O Ano Mais Violento fala sobre isso. Sobre a dificuldade em resistir as influências do meio e não se tornar um bandido, sendo que todos que atingiram os mesmos objetivos que o herói tem, precisaram ceder ao “lado negro da força”?
Com pouca violência (a maior parte das pessoas armadas até que “é gente boa” – dadas as circunstâncias), a tensão do filme fica nos diálogos e na corrida de Abel para conseguir 1,5 milhão de dólares para concretizar o negócio que vai expandir a sua empresa e torná-lo rico e poderoso. Ele tem 30 dias para fazer isso e, se falhar, vai perder tudo o que levou quase 20 anos para construir.
Outro ponto de tensão é a forma como a história vai se desenvolvendo. O protagonista é um empreendedor como vemos em palestras e entrevistas de hoje: “O que importa não é o final, e sim o caminho que trilho para chegar lá”, diz ele. Ele quer construir uma empresa grande e sair do Brooklin, que ao contrário de hoje era uma região barra pesada de Nova York, e conquistar respeito, dinheiro e poder.
É como se o sonho americano tivesse vários níveis, e pra atingir cada um deles, fosse preciso abrir mão de algo. Inicialmente, ele precisou abrir mão da sua “identidade original”. Abel é colombiano, mas faz questão de só falar em inglês, como vemos quando Julian tenta falar com ele em espanhol. Depois, seguindo o mantra dos empreendedores idealizados, ele tem que abrir mão da sua segurança arriscando a perder todas as suas economias (e em certo ponto, ele considera arriscar a sua própria vida), para concretizar a sua visão.
E agora, do que ele precisa abrir mão pra passar para o próximo nível? Da sua honestidade? Das suas convicções? Será que nesse caminho do american dream existe uma porta que não se pode abrir, apenas corromper?
O meio e as situações ficam instigando Abel a se deixar tomar pelo espírito padrão da indústria e a história vai se desenrolando de uma maneira que você não consegue ver outra saída a não ser ele cedendo e se tornando um gangster. E é aí que o que antes parecia falta de ritmo, se transforma em uma força do filme: ele foi montado dessa maneira, pra que você tenha o sentimento de estar preso em um beco sem saída, embora o protagonista nunca se permita ter esse pensamento.
Existe no filme, um personagem que ilustra o que acontece com quem se deixa corromper pelo meio e cede ao padrão da indústria. Um “amigo” e concorrente do protagonista conta a história que moldou toda a sua vida: O seu pai, que comandava a sua empresa como um gangster. Quando ele era bebê, o capanga de um concorrente invadiu a casa e, por sorte, nada aconteceu com ninguém de sua família… Mas a partir daquele dia, eles passaram a viver protegidos dentro dos muros de uma fortaleza. E hoje, já nos seus 40 anos, ele continua vivendo assim, pois apesar de tentar ter uma vida diferente, ele acabou cedendo quando precisou.
Ele é muito mais rico, poderoso e tem tudo o que o protagonista quer. Mas será que Abel está disposto a pagar o preço?
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